

Avaliao da sustentabilidade no setor florestal
Quando a produo realmente sustentvel?
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Material para produção de biojóias de babaçu. Foto de Carlos Goldgrub. |
Sustentabilidade não é mais uma tendência. É uma realidade, uma necessidade de sobrevivência que leva as empresas a buscarem soluções inovadoras e criativas para adequação de seus produtos e processos, na direção de uma economia de baixo carbono e mínimos danos ambientais.
Muito se fala sobre atitudes e práticas sustentáveis, porém nem sempre elas são acompanhadas por medição e comprovação. Isso impede estudos consistentes sobre tal sustentabilidade. Segundo ROBINSON (2004)1 , o desenvolvimento e a adoção de métodos de avaliação de sustentabilidade se tornaram uma prerrogativa para dar credibilidade ao conceito de desenvolvimento sustentável e, assim, combater o que ele chamou de ambientalismo cosmético (ou hipocrisia verde); ou seja, o uso de adjetivos relacionados ao conceito empregado para promover produtos ou serviços, porém sem qualquer verificação de sua real colaboração para a sociedade e o meio ambiente.
A avaliação da sustentabilidade também é uma forma de esclarecer aos consumidores o significado de termos muito usados atualmente pela indústria, tais como: desenvolvimento sustentável, sustentabilidade e produção sustentável. Esses termos geram dúvidas, como: “sustentável em que sentido?”, “como é medida essa sustentabilidade?”, “o que entra em conta para ser considerado sustentável?”, “sustentável até que ponto?”.
As respostas a essas questões demandam a escolha de uma ferramenta para avaliar a sustentabilidade de uma atividade específica, definindo os aspectos a serem considerados, a metodologia de coleta de dados, os valores de referência adotados e o nível de precisão. Assim, ficará claro ao público interessado o que exatamente está envolvido na classificação de uma certa produção como sustentável.
O setor da produção florestal não-madeireira é um exemplo da necessidade de avaliar sua sustentabilidade. À primeira vista, o setor pode parecer sustentável por retirar da floresta partes de plantas (frutos e folhas, por exemplo) e não promover a supressão de vegetação. Porém, sem a devida avaliação do sistema de produção adotado, não é possível afirmar que a floresta fornecerá o material biológico utilizado em quantidade e qualidade apropriada para manter a atividade econômica. O artigo publicado na revista Estatística Florestal da Caatinga (editada pela Associação Plantas do Nordeste (APNE) e pelo Ministério do Meio Ambiente), intitulado Caracterização de empreendimentos envolvidos com produção florestal não-madeireira no bioma Caatinga2 indica que os empreendedores declaram muitas vezes aplicar alguma técnica de extração da matéria-prima, mas não sabem informar a sua adequação para tornar a produção contínua e sustentável.
Esse setor tem potencial de ser sustentável desde que seja adotado um sistema de produção com técnicas de manejo que mantenham a extração em quantidade e qualidade desejada, colaborando para a conservação de recursos naturais. Dessa forma, a avaliação da sustentabilidade é um meio de conhecer melhor o empreendimento e planejar as ações, possibilitando:
a) Enxergar benefícios e problemas referentes às dimensões ambiental e socioeconômica, gerados pelo sistema de produção adotado;
b) Monitorar a melhoria de desempenho ambiental e socioeconômico;
c) Informar aos consumidores sobre aspectos ambientais e socioeconômicos relacionados ao produto comercializado.
Com isso, o empreendedor tomará consciência dos aspectos que diferenciam sua produção da de seus concorrentes em relação às dimensões ambiental e socioeconômica e terá condições de elaborar estratégias para agregar valor ao seu produto.
O estudo de caso de dois empreendimentos de manejo florestal para fins energéticos realizado no bioma Caatinga ilustra essa aplicabilidade. Tal estudo, descrito na Seção V - Manejo florestal sustentável e biodiversidade do livro Uso sustentável e conservação dos recursos florestais da caatinga3, a ser lançado pelo Serviço Florestal Brasileiro em novembro de 2010, apontou que o sistema de produção adotado colabora para a conservação das características físicas e químicas do solo e de alguns grupos de fauna. Essa informação complementa o resultado do inventário florestal que mostrou que o volume de madeira retirado da floresta na 1ª rotação, após 14 anos, havia sido recuperado ao término do primeiro ciclo de corte. Ou seja, não só estava assegurada a sustentabilidade da produção na 2ª rotação, como também foram comprovados os benefícios ambientais associados, que podem ser informados aos consumidores e influenciar a tomada de decisão no momento da compra.
A Seção de Sustentabilidade de Recursos Florestais do IPT está desenvolvendo linha de pesquisa e treinando sua equipe para apoiar setores produtivos baseados na utilização de recursos florestais quanto à avaliação da sustentabilidade dos sistemas produtivos utilizados.
Saiba mais em:
Notícias - Bioma Caatinga
Solução tecnológica - Tecnologias de produtos e serviços sustentáveis, ambiente e florestas
Sobre as autoras:
Caroline Almeida Souza, pesquisadora da Seção de Sustentabilidade de Recursos Florestais do CT-Floresta, é engenheira florestal e mestre em economia ecológica. As áreas de maior interesse de pesquisa são: serviços ambientais, desenvolvimento sustentável e avaliação da sustentabilidade.
Ligia Ferrari Torella di Romagnano é ecóloga, Mestre em Tecnologia Ambiental e responsável pela Seção de Sustentabilidade de Recursos Florestais do CT-Floresta, com atuação em projetos de avaliação do meio biótico, recuperação de áreas degradadas, serviços ambientais e gestão ambiental.
Referências:
1 Robinson, J. Squaring the circle? Some thoughts on the idea of sustainable development. Ecological Economics 48(2004):369-384. Disponível para assinantes em www.sciencedirect.com
2 Santos Jr., A. G.; Souza, C. A. Caracterização de empreendimentos envolvidos com produção florestal não-madeireira no bioma Caatinga.Estatística Florestal da Caatinga. Natal, v. 1., p. 18-32, 2008.
3 Gariglio, M.A., Sampaio, E.V.S.B., Cestaro, L.A. & Kageyama, P.Y. Uso Sustentável e Conservação dos Recursos Florestais da Caatinga. Serviço Florestal Brasileiro, Brasília, 2010. 368p.