

13.05.21
Agricultura do futuro
Projeto entre IEE-USP e IPT avalia potencial de uso de nova variedade de capim elefante para bioenergia e recebe prêmio internacional
Para avaliar o potencial de uso de uma nova variedade de capim elefante para fins bionenergéticos, a engenheira agrícola e ambiental Alessandra Camelo realizou a caracterização completa da nova cultivar PCEA para definir as melhores rotas de conversão. O estudo foi o tema de sua dissertação de mestrado na área de Análise e Planejamento Energético do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo (IEE-USP), sob a orientação de Patricia Matai, em parceria com o Programa Novos Talentos do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT).
A escolha do tema aconteceu em 2016, quando a ainda estudante de engenheira era estagiária da Embrapa Agrobiologia. Ela tomou conhecimento do desenvolvimento de uma nova cultivar (variedade) de capim elefante pela Embrapa Gado de Leite, a primeira a nível mundial a ser propagada via sementes. "A partir daí se deram tratativas entre as duas Embrapas para a doação de material e as definições experimentais, visando a produção de biomassa para a geração de bioenergia. Neste estudo buscamos confirmar a germinação da nova cultivar PCEA propagada por semente", explica Camelo.
A escolha do tema aconteceu em 2016, quando a ainda estudante de engenheira era estagiária da Embrapa Agrobiologia. Ela tomou conhecimento do desenvolvimento de uma nova cultivar (variedade) de capim elefante pela Embrapa Gado de Leite, a primeira a nível mundial a ser propagada via sementes. "A partir daí se deram tratativas entre as duas Embrapas para a doação de material e as definições experimentais, visando a produção de biomassa para a geração de bioenergia. Neste estudo buscamos confirmar a germinação da nova cultivar PCEA propagada por semente", explica Camelo.
Embora o Brasil tenha centros capacitados em termos de capital humano e tecnologia para desenvolvimento de variedades de interesse agroenergético nacional, o país ainda importa material para cultivo de capim elefante.
Para poder inferir sobre o potencial de uso de uma cultivar para bioenergia, testes que extrapolassem a lavoura eram necessários, como a caracterização completa da nova biomassa para definir as melhores rotas de conversão a fim de produzir energia, combustíveis ou bioprodutos. "É nessa etapa fundamental de caracterização que se enquadra o trabalho realizado no IPT, buscando suprir o gap entre a academia e a indústria", afirma ela.
ROTAS TECNOLÓGICAS - Existem várias rotas tecnológicas para a produção sustentável de etanol. A hidrólise foi a escolhida para o projeto. O etanol lignocelulósico pode ser obtido a partir de gramíneas como capim elefante, e a tecnologia da hidrólise vem sendo empregada em biorrefinaria por empresas brasileiras que utilizam bagaço de cana-de-açúcar para a produção do combustível.
A tecnologia ainda enfrenta alguns gargalos, incluindo a definição de pré-tratamento mais adequado para cada matéria-prima vegetal, que requer estudos específicos; além disso, testes para a identificação das melhores condições de pré-tratamento são necessários, assim como a seleção do agente químico a ser usado em cada etapa do processo.
Os materiais lignocelulósicos têm em sua composição basicamente celulose, hemicelulose e lignina, cuja proporção varia em função do tipo de material. Esses três compostos formam uma estrutura complexa e compacta, bastante recalcitrante (resistente), de maneira que se faz necessário submeter essa biomassa à tratamentos físicos e/ou químicos para sua utilização.
QUATRO ETAPAS - "O processo de conversão de biomassa em produtos de interesse comercial, como o etanol, envolve basicamente as etapas de pré-tratamento da matéria-prima, hidrólise por via química ou biotecnológica, fermentação e recuperação do produto", explica o pesquisador do Laboratório de Biotecnologia Industrial, do Núcleo de Bionanomanufatura do IPT, e co-orientador do trabalho, Alfredo Maiorano.
O pré-tratamento visa a remoção da hemicelulose, a redução da cristalinidade da celulose e o aumento da porosidade dos materiais, de modo a tornar a celulose susceptível à hidrólise. Por sua vez, a etapa de hidrólise pode ser feita por processos que utilizam ácidos, solventes orgânicos ou enzimas. Há um consenso de que a hidrólise enzimática da celulose apresenta grande potencialidade e, atualmente, as unidades implantadas para a produção de etanol 2G fazem uso desse processo.
A glicose produzida na hidrólise é, então, fermentada por levedura e produz-se o etanol. "Embora muito se tenha avançado em P&D do processo para a produção de etanol 2G, alguns pontos desse processo ainda requerem mais desenvolvimento, como pré-tratamentos com menor consumo energético e sem a formação de inibidores para as etapas seguintes", afirma Maiorano.
Para a execução do projeto, a engenheira cursou no IEE e na Escola Politécnica da USP as disciplinas obrigatórias e eletivas do Mestrado, enquanto o IPT disponibilizou toda a infraestrutura e o capital humano para as atividades práticas experimentais, que foram desenvolvidas no Laboratório de Biotecnologia Industrial.
"O Brasil se destaca desde o século XVI como um dos principais fornecedores mundiais de produtos primários. Embora isso tenha importância econômica, os paises com maiores IDH ´[Índice de Desenvolvimento Humano] não são fornecedores de produtos primários, mas sim de tecnologia", lembra
Maiorano.
Para alterar esse cenário, continua ele, surge a necessidade de implantação de politícas para o desenvolvimento da indústria nacional. A estratégia para isso passa pela promoção de ações de P&D&I, que são suportadas por três pilares: agências governamentais de fomento, universidades e ICT e as indútrias. "O Programa Novos Talentos, nessa linha, tem o importante papel de estreitar as relações entre as universidades e o IPT, permitindo a construção de parcerias com potencial interesse ao setor industrial. Soma-se a isso a importante troca de conhecimentos entre a pesquisa básica com a pesquisa aplicada, fruto desta aproximação com a universidade", completa ele.
RESULTADOS E PREMIAÇÃO - O projeto começou em agosto de 2018 e foi finalizado em agosto de 2020. A pesquisa foi desenvolvida e resultados interessantes foram alcançados: além da caracterização completa da nova cultivar de capim elefante PCEA, o estudo de pré-tratamento foi concluído e os resultados foram publicados este ano no EUBCE, o European Biomass Conference & Exhibition, que aconteceu entre 26 e 29 de abril.
A PCEA foi desenvolvida pela Embrapa especialmente para as condições relativas ao solo e ao clima da Região Sudeste, e pode ser semeada em áreas marginais ou agriculturáveis abandonadas, o que diminui a competição por solos com maiores teores de nutrientes a serem empregados para culturas alimentícias.
Além de boa produtividade em campo (64,90 toneladas por hectare ao ano), a nova variedade mantém características de boa adaptação às condições de cultivo hostis em solos com menores teores de nutrientes e regiões com menor índice de pluviosidade, além de ser responsiva à fixação biológica de nitrogênio, diminuindo a aplicação de fertilizante na lavoura e, consequentemente, a pegada de carbono da biomassa.
O maior rendimento de celulose entre cultivares que ainda são ou já foram amplamente cultivadas em solos brasileiros é observada no capim Napier - em contraste, a PCEA oferece conteúdo similar de celulose e, o mais importante, a alta produtividade de matéria seca eleva o conteúdo de celulose por área plantada.
"A PCEA possibilita transporte facilitado e tratos agrícolas mais eficientes por conta da operação de semeadura. No entanto, no que diz respeito à produtividade global, à capacidade de resposta à fixação biológica de nitrogênio (FBN) e ao rendimento da celulose, a cana-de-açúcar continua imbatível. Nesse contexto, novas cultivares de alto rendimento como PCEA são muito importantes, pois contribuem para a diversificação de matérias-primas para a produção de etanol lignocelulósico e para a segurança do setor energético", afirma ela.
O projeto foi considerado no EUBCE o mais inovador na nova categoria Industry Trakcs, que aloca trabalhos que teriam impacto mais imediato e contribuição para a indústria em cooperação com a academia. O prêmio será entregue durante a cerimônia de encerramento, que irá ocorrer de modo virtual no dia 29 de abril. "Este reconhecimento esta diretamente relacionado ao IPT e ao trabalho desenvolvido, no qual o intuito foi de suprir um gap e engajar academia e indústria para o desenvolvimento de biomassa, impactando o setor energético nacional", conclui ela.